Crise leva pessoas com diploma a trabalhos como recepcionista e faxineiro
Publicado em 21/11/2016 , por ÉRICA FRAGA e MARIANA CARNEIR
Patrícia Ferreira Perote, formada em pedagogia, hoje não consegue trabalho
A pedagoga Patrícia Ferreira Perote, 45, perdeu o emprego de professora em agosto deste ano. Com a crise, não tem conseguido outra colocação em sua área e resolveu buscar, em paralelo, uma vaga de babá.
Enquanto procura um trabalho fixo, tem feito bico como faxineira.
"Preciso desse dinheiro da faxina, até para continuar buscando um emprego."
Com a crise, milhares de brasileiros com diploma universitário, como Patrícia, têm sido empurrados para ocupações de menor qualificação.
Faxineiro foi, por exemplo, a sexta profissão que mais gerou vagas com carteira assinada para profissionais com ensino superior completo em 2015 em relação a 2014.
Entre as 30 ocupações que mais criaram emprego nessa faixa de escolaridade no ano passado, pelo menos 11 são funções que não exigem alta qualificação, como assistente administrativo, auxiliar de escritório, vendedor no comércio e recepcionista.
Os dados foram levantados pela Folha na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), que traz informações sobre mais de 2.500 ocupações no mercado formal e foi divulgada recentemente.
Segundo especialistas, a recessão leva as empresas a trocar profissionais menos escolarizados por outros mais qualificados, que se sujeitam a ganhar menos e a exercer posições menos sofisticadas.
"Nas crises, os empregadores tentam pagar o menos possível e passam a exigir mais qualificação", afirma o economista Anselmo Luís dos Santos, da Unicamp.
O movimento de contratações e demissões de assistentes administrativos, responsáveis por funções como atualizar planilhas e cuidar de boletos bancários, ilustra isso.
O saldo de assistentes administrativos com ensino médio completo aumentou em todos os anos entre 2007 e 2014. Esse movimento foi interrompido em 2015, com a eliminação de 12.218 vagas.
Já entre profissionais com nível universitário foram criadas 44.801 posições nessa ocupação no ano passado.
CHEFES DE FAMÍLIA
Para Naercio Menezes Filho, pesquisador do Insper, a recessão atual tem um aspecto que pode estar impulsionando a precarização.
"O desemprego tem atingido mais chefes de famílias, que por serem a principal renda do domicílio podem estar se sujeitando a desempenhar ocupações mais precárias."
A economista Fernanda Estevan, da USP, ressalta que, embora a situação não seja positiva, é precipitado concluir que esses profissionais desperdiçaram tempo cursando o ensino superior.
"Na recessão, talvez eles estivessem desempregados sem essa formação", afirma.
No ano passado, foi eliminado 1,5 milhão de vagas formais, principalmente profissionais com ensino fundamental e médio. Entre profissionais com ensino superior completo, houve aumento de 29.930 vagas.
INCOMPLETO
Entre as profissões que mais geraram vagas no ano passado aparecem também ocupações de nível superior. Enfermeiros, administradores e farmacêuticos tiveram mais oportunidades no mercado de trabalho em 2015.
Ocupações também típicas do ensino superior –como engenheiro civil e arquiteto– registraram queda no saldo de ocupados no ano passado, quando o país já estava em recessão –iniciada em 2014.
Para os que têm ensino superior incompleto, a situação é mais complicada. Nessa faixa de escolaridade, foram eliminadas 16,8 mil vagas.
Após quatro semestres na faculdade de direito, Regina Nakamura, 47, teve de desistir do sonho de ter um diploma ao ver seu negócio, um caraoquê, ir à falência. Sem conseguir um trabalho formal, se inscreveu no site de trabalhos domésticos Parafuzo, em que trabalha como passadeira, em limpeza e organização.
"O mercado de trabalho tem preconceito com pessoas da minha idade. Eu tinha 45 anos, mandava currículos e nada", disse ela, que hoje diz que desistiu do direito.
"Penso em terminar o curso superior um dia, mas seria algo para eu ficar satisfeita comigo mesma", diz. "O que mais cresce é a demanda por mão de obra, algo mais prático, penso em investir nisso."
Fonte: Folha Online - 20/11/2016
Notícias relacionadas
- Balança comercial fecha outubro com US$ 6,96 bilhões de superavit
- Haddad promete que governo Lula entregará melhor resultado fiscal desde 2015
- Desemprego no Brasil atinge 5,6% e iguala o menor patamar da história
- Caminho para Brasil crescer de maneira sustentável é ter mais ganho de produtividade, avalia Galípolo
- Vagas temporárias de fim de ano devem gerar 535 mil contratações no País
- Desequilíbrio nos Correios abre crise, e empréstimo pode não resolver
- Vendas em bares e restaurantes caem 4,9% em setembro, aponta Abrasel
- Inacreditáveis 17 anos de tramitação de ação que... ainda não tem sentença
- Presidente dos Correios confirma empréstimo de R$ 20 bilhões e prevê volta ao lucro apenas em 2027
- Nestlé anuncia corte de 16 mil vagas em "reestruturação global"
Notícias
- 07/11/2025 Entenda o que muda com a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil
- Bets consomem 27% do Bolsa Família pago a lares com apostadores, diz TCU
- Petrobras anuncia lucro líquido de R$ 32,7 bilhões no terceiro trimestre
- Poupança tem retirada líquida de R$ 9,652 bilhões em outubro, mostra BC
- Balança comercial fecha outubro com US$ 6,96 bilhões de superavit
- Copom mantém Taxa Selic a 15% pela terceira vez no ano
- Município é responsabilizado por complicação em cirurgia odontológica
Perguntas e Respostas
- Quanto tempo o nome fica cadastrado no SPC, SERASA e SCPC?
- A consulta ao SPC, SERASA ou SCPC é gratuita?
- Saiba quais os bens não podem ser penhorados para pagar dívidas
- Após quantos dias de atraso o credor pode inserir o nome do consumidor no SPC ou SERASA?
- Protesto de dívida prescrita é ilegal e dá direito a indenização por danos morais
- Como consultar SPC, SERASA ou SCPC?
- ACORDO - Em caso de acordo, após o pagamento da primeira parcela o credor é obrigado a tirar o nome do devedor dos cadastros de SPC e SERASA ou pode mantê-lo cadastrado até o pagamento da última parcela?
- CHEQUE – Não encontro à pessoa para qual passei um cheque que voltou por falta de fundos. O que posso fazer para pagar este cheque e regularizar minha situação?
- Problemas com dívidas? Dicas para você não entrar em desespero
- PROTESTO - Qual o prazo para o protesto de um cheque, nota promissória ou duplicata? O protesto renova o prazo de prescrição ou de inscrição no SPC e SERASA?
- Cartão de Crédito: Procedimentos em caso de perda, roubo ou clonagem
- O que o consumidor pode fazer quando seu nome continua incluído na SERASA ou no SPC após o pagamento de uma dívida ou depois de 5 anos?
- Posso ser preso por dívidas ?
- SPC e SERASA, como saber se seu nome está inscrito?
- Acordo – Paga a primeira parcela nome deve ser excluído dos cadastros negativos (SPC, SERASA, etc)
